Provavelmente quem participou da passeata em Joinville, no dia 20 de Junho de 2013, ficou confuso com tudo que aconteceu. Com certeza, umas das maiores manifestações já realizadas na cidade (estima-se entre 10 e 15 mil pessoas), porém, tão grande quanto o número de presentes foi a quantidade de “pautas” levadas às ruas. A grande maioria delas eram “genéricas” e sem objetividade, outras tantas contraditórias entre si.
O que se viu na quinta feira não foi um movimento. Num contexto nacional em que a grande mídia e os partidos de direita utilizaram da movimentação popular para esvaziar a pauta levada às ruas (transporte público), pudemos presenciar o mesmo cenário de confusão em Joinville.
Por isso um fato inevitável foi a divisão da passeata. Acreditamos que não existiu possibilidade de “unificar” o ato, indo contra o discurso construído pelas grandes mídias, não da semana passada para cá, mas de muito tempo. A mídia diariamente utiliza todos os seus meios de comunicação para defender pautas genéricas como “basta corrupção”, “fora o politico da vez”, “prisão de todos os mensaleiros” e etc. Reivindicadões que não apresentam riscos aos seus interesses, que de tão abstratas não nos mostra um objeto claro, uma solução, minando a força popular e a esvaziando politicamente. Acreditamos que por mais eloquentes fossem os oradores naquele momento, por mais alto que falassem, isso não resolveria o problema.
Nós do Movimento Passe Livre, junto com outras organizações, buscamos politizar a manifestação, tentando dar um foco, uma reivindicação concreta, e que dialogasse com o que deu origem ao levante popular pelo país: a democratização do transporte coletivo e seu modelo tarifário.
É impossível reproduzir em um texto tudo que aconteceu na passeata de quinta-feira, destacaremos alguns momentos mais significantes. O primeiro foi quando a passeata atravessou o terminal central, com a autorização da polícia, para que a manifestação seguisse aos prédios dos três poderes. Nesse momento as pessoas ficaram eufóricas, mesmo se tratando apenas de uma passagem pelo terminal, gritos de “ahá, uhú, o terminal é nosso” foram cantados por todos. Agora nos perguntamos, por que as pessoas sentiram que “conquistaram” o terminal, se o “natural” é pagar a tarifa, ou melhor, se o “correto” é pagar? O que realmente conquistaram ali? Ou ainda, se o terminal foi “nosso” somente naquele momento. Então o terminal, não é nosso cotidianamente? Isso de alguma forma evidencia que esse serviço público não está a serviço do povo.
Após uma longa caminhada em frente aos três poderes, a manifestação voltou ao centro fechando as quatro faixas da Avenida Beira Rio. Passamos na frente da Sede do PT, onde foram feitas falas ao Prefeito de São Paulo e ao Governo Federal. Depois o ato se dirigiu a Avenida “JK” e de cima da passarela foi realizada uma assembleia, através de um jogral. Nesse momento nosso “bloco” estava menor, cerca de 3 mil pessoas resistiram à chuva e a longa caminhada que já durava quase 3 horas. Ali foi deliberado uma manifestação pelo transporte público gratuito e de qualidade, para próxima quarta (26/06), às 18h30, na Praça da Bandeira. Vale ainda destacar a passagem, com vaias e gritos, contra a frente do sede do PSDB, partido do Governador de São Paulo, responsável pelo aumento da tarifa de metrô e a forte repressão da polícia nas manifestação de lá.
Dali seguimos para a Praça da Bandeira em frente ao terminal do centro para concluir o ato. Ao chegar no terminal, novamente quem estava na rua questionava o modelo de transporte privado e empolgados por gritos como “Não pago, não pagaria, transporte publico não é mercadoria” ou “Quem não pula quer tarifa”, tentaram entrar no terminal pela entrada/saída dos ônibus, porém a policia se colocou à frente, após alguns momentos de tensão os manifestantes seguiram em direção à praça. Porém o destino não foi de fato a praça, mas sim as catracas que diariamente regulam quem pode e quem não pode andar pela cidade. Nesse momento houve um catracaço. Os manifestantes começaram a pular as catracas, encerrando o ato, e voltando para casa sem pagar a tarifa. A polícia novamente se colocou a frente das catracas, impedindo que partes das pessoas pulassem. A manifestação ficou dividida, parte dentro parte fora do terminal, todos começaram a cantar gritos de protesto, após muita tensão, as catracas foram liberadas para quem quisesse pular. Novamente todos sentiram que o terminal era delas, que os ônibus eram de fato públicos. Novamente se ouvia “ahá, uhú, o terminal é nosso”. Agora sim, por um instante, o terminal era nosso, o transporte coletivo era nosso, pois não se tratava de apenas atravessar o terminal, mas de usufruir de um serviço como de fato público, sem a restrição da tarifa.
Perspectivas para avançarmos
Fato é que hoje a direita vem trabalhando muito bem, e tem conseguido com sucesso tirar o foco das manifestações, generaliza-las, e quando não “enDIREITA-las”. Agora é preciso que façamos com que as manifestações retomem seu caráter popular e não se percam na onda da classe média conservadora. Os partidos de direita tem atuado “camuflados” incitando uma “caminhada pela paz”.
Nas periferias nunca houve paz, nas filas da saúde nunca houve paz, nas escolas públicas nunca houve paz, nas catracas diárias nunca houve paz, mas sim uma violência camuflada, silenciosa.
É o momento da esquerda, dos de baixo, chamarem suas próprias manifestações com a sua cara de combatividade, de luta. Junto ao povo, junto aos de baixo, junto às periferias. É preciso reagir a essa investida conversadora. É preciso retomar o foco delas, avançar em conquistas, e não nos perdermos na generalidade. Devemos convocar nossas bases, fazer valer nosso trabalho cotidiano, chamar manifestações que de fato questionem esse sistema de exploração.
Nós do MPL sempre fomos apartidários, mas nunca anti-partidários. Sempre respeitamos os partidos e do lado dos que estão nas ruas na luta pelos explorados, e repudiamos com todas nossas energias os que trabalham a favor dos de cima, dos poderosos.
Objetivo claro
Precisamos ter um objetivo claro. Pautar o transporte hoje é recolocar a revolta popular na cena politica. É dar força a um processo nacional de mudança de esquerda e para o povo. Um processo de retomada das ruas, contra o conservadorismo.
Em Joinville, os contratos com as empresas Gidion e Transtusa acabam em 2014. É o momento de mudança. O Udo (PMDB), já sinalizou que provavelmente irá prorrogar o contrato das empresas, sem ao menos fazer a licitação do transporte. A mudança não virá dos de cima, mas sim das ruas, organizadas e mobilizadas de forma combativa.
É o momento de acabar com esse modelo privado de transporte coletivo, é o momento de construir um novo modelo que atenda o povo. Devemos exigir audiências públicas nos bairros, a fim de construir um transporte PÚBLICO, GRATUITO, e QUALIDADE, rumo a TARIFA ZERO.
Fonte: http://www.ielusc.br/aplicativos/wordpress_revi/as-manifestacoes-continuam-em-joinville/?fb_comment_id=fbc_396378703815794_2175972_397253107061687#f13289513 |
2 comentários:
E a maior parte do pessoal que não seguiu o mpl? Ficaram todos na prefeitura, dizendo "A PREFEITURA É NOSSA".
E a grande maioria que não seguiu o MPL? Ficaram todos na frente da prefeitura orgulhosos gritando "A PREFEITURA É NOSSA". Temos que admitir, o povo está alienado demais ou temos mais de um movimento nas ruas.
Postar um comentário