“Grande ato”, dizia o panfleto que convocava tod@s para a manifestação de sexta-feira (22) contra o aumento abusivo da tarifa de ônibus em Joinville, que fechou a semana de protestos para barrar o reajuste. Desde o dia 15 de maio, o MPL (Movimento Passe Livre) esteve nas ruas, ao lado de outros movimentos e entidades, gritando, cantando e se organizando na luta pelo transporte público.
Escrever no panfleto: “grande ato”, pode ser pretensioso, mas a experiência dos outros dias de manifestação fez-nos ter essa expectativa. Se até então, nossos atos foram limitados pela quantidade de pessoas, eles não ficaram devendo em qualidade, até porque, nossos princípios não estão medidos por números, mas pela participação política e democrática das pessoas, no caráter do ato e na reivindicação. Se a quantidade fosse o mais importante, o 1º de maio, realizado pelas Centrais Sindicais com milhões de pessoas, seria o maior espaço de discussão e reivindicação política do país, mas, do contrário, se tornou um verdadeiro curral eleitoral, uma grandiosa festa limitada às atividades assistencialistas.
O MPL defendeu que a primeira semana após o aumento deveria ser marcada por protestos todos os dias, ao contrário da Juventude Revolução e da Esquerda Marxista, também membros da Frente, que acreditavam que manifestações diárias, desgastariam o movimento. O fato é: terminamos a semana maior (em quantidade) do que começamos.
O “grande ato”, é bem verdade, não teve organização para tal, que não foi possível pelo falta de tempo. Na quarta, em assembléia, decidimos chamar a manifestação de sexta. Na medida do possível, as pessoas se responsabilizaram em panfletar em suas escolas, entrar em contato com conhecidos e divulgar o ato pela internet. Na quinta, ainda tivemos mais um ato simbólico: o enterro do transporte público de Jonville.
Sexta às 18h, os manifestantes se concentraram na praça. O número exato não se sabe, mas certamente, era mais que nos dias anteriores. Às 18h30m, já dava de ouvir os gritos: “vem, vem, vem, par luta vem contra o aumento”, mesmo roucos, os gritos não paravam.
O protesto contou com as presenças ilustres do ex-prefeito peessedebista, Marco Tebaldi e do atual prefeito, o petista Carlito Merss. Na verdade eram companheiros de luta, fantasiados para mostrar a semelhança entre Carlito e Tebaldi que, aparentemente, são farinhas do mesmo saco, contra a população e a favor de quem explora o transporte e o trabalhador. Saímos em passeata com um bom número de manifestantes, que aumentou com o decorrer do protesto. A polícia militar contou 500 pessoas. Um grande ato, não somente pela quantidade, mas, principalmente, pela participação. Um ambiente verdadeiramente político, onde tod@s tinham (e têm) a mesma importância e espaço.
Coletivamente, decidimos sair pelas ruas do centro até o colégio Conselheiro Mafra para convocar os estudantes à luta. No caminho, fechamos ruas por pouco tempo, principalmente para fazer o “pula catraca”.
O movimento é predominantemente estudantil e, mesmo que a maioria dos estudantes também trabalhe, quer que os trabalhadores juntem-se aos atos. Na sexta, pelo menos um trabalhador colaborou com a luta. Quando seguíamos nossa rota, ele, em horário de serviço, nos abordou para revelar uma informação que acabou mudando nosso itinerário. Ele nos informou que o Partido dos Trabalhadores (PT) estava realizando uma reunião em um hotel no centro da cidade. Decidimos ir ao local para mostrar às figuras e ao partido responsável pelo aumento, que estamos nas ruas e não vamos parar.
Paramos em frente ao hotel e cantamos nossas reivindicações. Na portaria, negaram que havia uma reunião do PT. Enquanto esperávamos a confirmação, tivemos algumas falas e fizemos muito barulho. A rotina da cidade estava alterada. Aqueles que oneram a população e deitam tranqüilos em seus travesseiros, certamente, tiveram uma dor de cabeça naquele dia. Numa das falas, um companheiro lembrou que o PT, na mesma semana, tinha lançado uma nota declarando ser favorável ao aumento. Isso deixa claro que o transporte não é uma decisão individual, mas um problema político e que deve ser tratado e resolvido como tal. A Frente não culpa uma pessoa pelo reajuste. Não é uma questão moral. O aumento mostra que o governo petista não pretende qualquer mudança, pois mantém a mesma prática de seus adversários políticos combatidos no passado.
A confirmação da reunião veio pela pressão. O secretário Eduardo Dalbosco desceu para falar com os manifestantes. Desceu, mas não falou nada. Só ouviu os gritos de “pelego” em alto e bom som, palavra que de maneira alguma soou como acusação, mas sim, uma constatação política, afinal, ele mesmo disse: “Um partido quando está fora do governo se articula com os movimentos sociais, mas quando está no governo trabalha com o poder e faz o que pode”. (REVI, 18/05/2009)
Saímos do hotel. Aquele não era nosso espaço. Decidimos voltar para praça. Lá, na frente do terminal central de ônibus, um companheiro falou sobre as empresas Gidion e Transtusa e o real motivo pelo qual estamos lutando: não só barrar o aumento da tarifa, mas, principalmente, lutar contra a exploração do transporte pelas famílias Harger e Bogo. Explorações que um dia os petistas tanto criticaram e hoje, no governo, defendem.
Foi lembrado das catracas e o significado que elas têm: privar a população de utilizar um serviço público. Objeto que escolhe quem pode ou não andar pela cidade. Decide quantas vezes você pode exercer seu direito de ir e vir. Após a fala, foi queimada simbolicamente uma catraca do movimento passe livre. Depois de muitos barulhos e gritos de "queima a catraca", foi realizada uma assembléia para organizar os próximos dias de resistência.
A assembléia decidiu convocar o próximo ato para quarta-feira (27), pois já saberiamos a decisão tomada pela Comissão Legislativa da câmara sobre o pedido de sustação do decreto que autorizou o aumento da passagem de ônibus. Ontem (26), o pedido foi aceito. Hoje será lido um documento e a prefeitura terá dez dias para enviar uma resposta. Se não for aceita pela Comissão, será levada para votação no Plenário. A maioria votando a favor da sustação, cai o decreto do prefeito e se a tarifa não voltar ao preço anterior, a briga vai para o judiciário.
A pausa nas manifestações não significa descansar. Muito menos parar. É um tempo para nos organizar. Hoje estaremos nas ruas. A nova manifestação é chamada de “mega ato”, afinal, como diz um dos gritos dos protestos: “amanhã vai ser maior”.
Movimento Passe Livre Joinville
Por uma vida sem catracas.
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