sábado, 29 de outubro de 2011

[A Notícia] Culpado por atropelamento? Pedestre, claro

 Por Lola Aronovich 
23/10/2011

Aconteceu em abril numa cidade chamada Marietta, em Geórgia, EUA. Raquel, uma mãe solteira negra, trabalhadora e estudante universitária, iria celebrar seu aniversário de 30 anos no dia seguinte. Levou seus três filhos, de nove, quatro, e três anos, para comer pizza e comprar comida num shopping. Perderam o ônibus de volta, o que fez com que se atrasassem uma hora. Quando chegaram perto de casa, já era noite. Desceram no ponto de ônibus de sempre. Para atravessar a avenida, só havia uma faixa de pedestres a meio quilômetro de distância. Raquel fez o que todos os outros passageiros que desceram do ônibus com ela fizeram: foi até a metade da avenida e esperou os carros cessarem. O filho de quatro anos, que estava carregando um saquinho com água e um peixe dentro, soltou a mão de Raquel e foi atrás de uma menina. Um carro o atropelou e matou. O motorista não parou para socorrê-lo. Mais tarde, ele admitiu ter bebido e tomado analgésicos. Ele era quase cego de um olho e já havia sido condenado duas vezes por atropelamento sem prestar ajuda. A pena por mais este atropelamento? Seis meses de prisão em regime aberto.

Mas alguém precisava ser punido, e este alguém foi Raquel. Sim, a mãe. Ela foi condenada a três anos de cadeia por ter atravessado fora da faixa e, assim, indiretamente matado seu próprio filho. O júri que a condenou, além de ser composto unicamente por homens brancos, nunca tinha andado de transporte público na vida.

Pode parecer absurdo, mas, na ocasião, a maior parte das pessoas, blogosfera americana inclusa, apoiou a decisão e não teve empatia nenhuma por Raquel. Nem por ela nem por uma outra mãe condenada em 2010 pelo mesmo crime (cruzar em lugar proibido assim perdendo sua filhinha). Só aos poucos é que as pessoas começaram a perceber a injustiça.

O movimento Transportation for America, que luta para que humanos, e não carros, sejam valorizados, aponta que Marietta, a cidade onde ocorreu o acidente, é o décimo lugar metropolitano mais perigoso para pedestres nos EUA – Orlando, Flórida, onde fica a Disney World, é o número um. Parece que zonas residenciais, como os subúrbios, muitas vezes são mais perigosos que as avenidas centrais de uma cidade. Nas ruas dos subúrbios, os carros correm mais e não pensam que vai haver pedestres. Talvez a mudança de opinião do público, que mais tarde organizou um abaixo-assinado com mais de 80 mil assinaturas em defesa de Raquel, ocorreu porque muita gente se pôs no lugar dela (e a pressão fez com que a sentença fosse invalidada). Pra atravessar na faixa de pedestres mais próxima, ela teria que andar meio quilômetro com seus três filhos pequenos, à noite e segurando várias sacolas. Chegando lá, teria que cruzar a rua (e desde quando uma faixa de pedestres detém um motorista alcoolizado?) e voltar outro meio quilômetro com seus três filhos pequenos, à noite, carregando sacolas. Quantas pessoas nessa situação (aliás, pode tirar os três filhos e as sacolas) andariam um quilômetro para atravessar na faixa?

Faz algum sentido ter um ponto de ônibus que para diante de um local residencial e nenhuma faixa próxima para que as pessoas possam ir pro outro lado da rua? É incrível, mas recebemos lavagem cerebral pra amar o carro sobre todas as coisas. Esse amor é tão incondicional que só vemos as vantagens do carro, raramente suas inúmeras desvantagens. Por exemplo, nos EUA, entre 2000 e 2009, 47.700 pedestres foram mortos. Isso equivale a um acidente aéreo com um avião grande cheio de passageiros por mês. Nos dez anos levantados, 690 mil pedestres foram atingidos, não mortos, por carros – o que representa um carro ou caminhão batendo num pedestre a cada sete minutos. A gente fica chocada e triste com acidentes aéreos que fazem vítimas, né? Mas não costuma dar a mínima pra pedestres atropelados. Por que não? Não são pessoas também?

Não damos bola por pura ideologia. Essa é a cultura do automóvel. Já está plantado no nosso cérebro que algumas pessoas valem mais que as outras. Pessoas que têm carro merecem ter a rua só pra elas, porque são mais importantes que esses pé-rapados que caminham ou pegam ônibus. A cultura do automóvel nos ensina que não dá pra viver sem carro, que todo mundo que quer “vencer na vida” tem que ter um carro, que transporte público é coisa de pobre. Pros homens, a cultura do automóvel é ainda mais perniciosa. Carros estão diretamente ligados a sua potência sexual. Eles aprendem que sem carro não são ninguém. Que sem carro não vão conseguir pegar mulheres. Que todas as mulheres são maria-gasolina.

E praticamente todas as cidades são construídas em cima dessa ideologia, como se fossem dedicadas ao totem-carro. Elas são pensadas para ter um trânsito rápido, onde os motoristas podem dirigir sem parar em inconvenientes sinais e faixas. Isso, obviamente, tem prioridade sobre um trânsito seguro, em que pessoas sem carro possam ir de um lado pra outro da rua sem serem atropeladas.

Quase todo mundo aceita sem pestanejar que tenhamos muito mais ruas que calçadas, e que mesmo as calçadas sejam feitas para os carros, com todos os declives para que carros possam entrar e sair de suas garagens. Acatamos numa boa o fato de as cidades serem dos carros, não das pessoas. Porque só isso explica como um ponto de ônibus possa ficar a meio quilômetro (nas duas direções) de um conjunto de casas residenciais. Vivemos num sistema que não está preocupado em melhorar as condições de vida de quem anda a pé, mas de abrir mais e mais rodovias pra carros e punir quem cruza o seu caminho. E quando precisamos culpar alguém pelas dezenas de vítimas feitas a cada mês, criminalizamos a própria vítima, o pedestre, ou sua mãe. Nunca a cultura do automóvel.

Um dos slogans das pessoas que querem mudanças, que se opõem ao pensamento único do capitalismo, é que um outro mundo é possível. Vendo casos como este da Raquel, eu digo que um novo mundo é mais que possível – é necessário. E urgente.

http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3533884.xml&template=4191.dwt&edition=18209&section=1361

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Palestra com Lúcio Gregori em Joinville

Lucio Gregori é engenheiro e foi Secretário da Secretaria Municipal dos Transportes da cidade de São Paulo, em 1990, na gestão de Luiza Erundina (na época do PT). Quando assumiu a secretaria de Transportes, ele desenvolveu junto com sua equipe e com o apoio da prefeita, a idéia política de um transporte coletivo como direito, de acesso para todos e todas, sem distinção, financiado pela coletividade, com ênfase nos setores mais ricos da sociedade, implantando um projeto-piloto da Tarifa Zero num bairro paulistano, chamado Cidade Tiradentes, bairro esse que na época tinha 200 mil habitantes.

 Hoje, com 75 anos e já aposentado, Lúcio Gregori se dedica a dar palestras e participar de debates gratuitamente pelo Brasil, trazendo novamente a proposta da Tarifa Zero. Ele esteve pela primeira vez em Joinville no ano passado (2010), participando do “II Seminário – Mudar o Transporte, Fazer a Cidade”, debatendo o problema do transporte junto com ex-presidente do IPPUJ, Luiz Alberto, e os militantes do MPL-Joinville. Atividade essa que foi organizada pela Frente de Luta pelo Transporte Público e apoiada pelo Departamento de Comunicação Social do Bom Jesus Ielusc.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Exposição de fotos na Univille



Entre os dias 11 e 14 de outubro, acontecerá na Univille (ao lado do aquário), a exposição de fotos do Movimento Passe Livre Joinville, que traz fragmentos da luta no transporte em Joinville.
O evento, que será organizado pelo MPL em parceria com o CALHEV , faz parte da campanha pelo Tarifa Zero em Joinville.