terça-feira, 1 de abril de 2008

Para trabalhador, "a meninada" está certa em exigir o passe livre

reproduzido do saite Fazendo Media

01.04.2007

Por João Paulo Gondim, da redação

Trajando o uniforme – camiseta amarela estampada com a marca de uma cerveja, pochete, bermuda surrada e tênis – que veste há sete anos, desde que abandonou, por falta de oportunidades, o ofício de pedreiro, Roberto Lopes, 28 anos, vendia bebidas para alguns dos milhares de estudantes e militantes de movimentos sociais concentrados na Candelária, no último dia 28. “Sempre venho para essas manifestações. Elas que fazem o futuro”, afirmou, rodeado de estudantes secundaristas que lutavam por garrafas d’água.

Foto: Leandro Uchoas

Questionado sobre o motivo das manifestações, Roberto respondeu imediatamente: “A meninada quer passe-livre. Estão certos, do jeito que as passagens tão caras não sobra dinheiro pra mais nada.” Ao saber que há exatas quatro décadas, um estudante secundarista morria em confronto com a polícia, o vendedor ficou boquiaberto. Vem ano, passa ano, nada muda, concluiu. A repressão aos mais fraco persiste, firme e forte.

“Com os ambulantes é assim [perseguição] também. Fica a Guarda Municipal pra cima da gente, o Cesar Maia não deixa a gente trabalhar, ele quebrou a firma”. A paráfrase ao colega ambulante ilustre, Mc Magalhães, leva à pergunta sobre a mobilização da classe. “Nenhuma. A maioria dos ambulantes é desunida”, lamentou.

Roberto Lopes não sabia, mas além do passe-livre estudantil, havia outras reivindicações na passeata do Dia Nacional de Luta dos Estudantes. Expansão da universidade com democracia e qualidade; melhorias da saúde pública; reformas urbana e agrária; reestatização da Vale do Rio Doce; preservação do meio-ambiente; e melhores condições de trabalho foram pleiteados pelos manifestantes, que seguiram da Candelária ao Palácio Gustavo Capanema, representação do MEC no Rio.

Foto: Leandro Uchoas

A desinformação do ambulante não se deu por acaso. A mídia corporativa ignorou a manifestação nos dias que a antecederam. Noticiou apenas a inauguração, em outra parte do centro da cidade, da escultura em homenagem a Edson Luis, o estudante-mártir de 1968. Quando tratou da passeata no sábado 29, limitou-se a destacar “as pichações dos estudantes” na Alerj.

A passeata também pegou de surpresa Guido (“sem sobrenome, por favor”), um administrador de empresas, de 50 anos, que observava a tudo na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Miguel Couto. “Estava saindo do trabalho e parei pra ver os protestos. Esses manifestantes têm o meu total apoio, estão de parabéns”, aprovou.

Por ter sido criança na época, o administrador se lembra vagamente do clima de comoção causado pelo assassinato de Edson Luis. Entretanto, quase duas décadas e meia depois, já crescido, não se furtou em tomar as ruas, protestar contra a situação podre em que vivia. “Na época do ‘Fora Collor’ [segundo semestre de 1992] não saía da Rio Branco”, disse Guido, indicando o caminho. “É por aí mesmo. O povo unido jamais será vencido”, repetiu o slogan que amedronta a dita grande imprensa.

Fotos: Leandro Uchoas.

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